Estudantes
debatem com candidatos a reitor e mostram disposição
de exigir que promessas sejam cumpridas Camila Vieira
Os três candidatos a reitor apresentam suas propostas em debate
realizado no auditório da Faculdade de Direito
Propostas e sutis trocas de ofensas. O debate entre os candidatos
à Reitoria da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Jailson
Bittencourt de Andrade (química), Naomar Monteiro de Almeida
Filho (medicina) e Nelson De Luca Pretto (educação),
esquentou o auditório da Faculdade de Direito, na Graça,
ontem pela manhã. Em pleno horário de aula, estudantes
lotaram o local, fizeram cobranças e, entre vaias e aplausos,
mostraram suas preferências. Durante a discussão ficou
claro que, independente de quem ganhe a eleição, os
alunos da universidade estão dispostos a cobrar as promessas
eleitoreiras.
A professora do Instituto de Letras, Evelina de Carvalho Sá
Hoisel, candidata a vice-reitora na chapa do candidato a reitor
Jailson Bittencourt, professor do Instituto de Química, destacou
o que considera importante para instituição. "A
Ufba precisa de uma política cultural produzida com a participação
institucional e dos demais grupos ligados à universidade",
assinalou, reforçando que ela e o candidato a reitor acreditam
que a instituição tem como se tornar uma escola de
ensino superior de qualidade.
Depois dos 15 minutos de discurso da chapa adversária, foi
a vez de Naomar Monteiro de Almeida Filho (medicina), atual reitor
e candidato a reeleição, apresentar suas propostas.
"Essa é oportunidade que temos de repensar a nossa instituição.
Disse no último debate e repito, precisamos avaliar a Ufba
sem hipocrisia e sem superficialidade", afirmou. Ele fez questão
de destacar que o conceito de autonomia da universidade precisa
ser discutido sem se prender à história anterior,
mas com uma visão mais ampla para o futuro. "Precisamos
superar os velhos conceitos de autonomia e criar um novo",
assinalou.
Almeida sugeriu uma universidade autotransformadora, não
como instrumento de ação política imediata,
mas como espaço de diálogo com a sociedade e toda
a sua riqueza. "Necessitamos de instituição participativa,
que unifique a juventude com o mundo", reforçou. O atual
reitor fez questão de destacar que universidade não
deve ser apenas um agregado de departamentos e um repertório
de disciplinas. "É preciso haver sincronia com o mundo.
Não podemos ser críticos e presunçosos. Temos
que estar a favor da sociedade por que ela não está
contra nós", declarou, finalizando o discurso.
O professor Nelson De Luca Pretto, candidato da terceira da chapa,
declarou seu compromisso com uma campanha aberta, ética e
com grande possibilidade de escuta. "Quero criticar de forma
contundente como o processo está sendo conduzido, de forma
obscura", assinalou. Na opinião do candidato, autonomia
é o financiamento da universidade com recursos públicos,
condenando a prática realizada na gestão atual. "Não
posso concordar com cursos e atividades pagos dentro da Ufba. A
instituição é pública", ressaltou.
Pretto condenou a desativação do restaurante universitário
no campus de Ondina e defendeu a implantação de mais
cursos noturnos.
***
Platéia participativa
Quem iniciou a participação da platéia foi
a professora da Ufba Iracy Picanço, que fez questão
de pedir aos candidatos a adoção de uma postura acadêmica
e educada no momento do debate. "Gostaríamos que evitassem
os adjetivos", solicitou. Em seguida, a docente, que está
na Ufba há mais de 30 anos, perguntou como os candidatos
encaram a reforma universitária, como pretendem tornar mais
clara a utilização do orçamento direcionado
à universidade, e se pretendem instalar, novamente, o restaurante
universitário.
Antes das respostas dos candidatos, foram feitas outras perguntas
como a do estudante Renato Santos, que perguntou ao professor Naomar
Almeida se os projetos concretizados na sua gestão foram
de sua autoria. O tempo de um minuto para as respostas não
permitiu que os candidatos dessem retorno para todos os questionamentos.
Jailson Bittencourt, professor do Instituto de Química, prometeu
instalar o restaurante até o segundo semestre deste ano;
Pretto considera a medida importantíssima, falou sobre a
necessidade, mas preferiu não determinar um prazo. O professor
Naomar Almeida se esquivou da pergunta e falou apenas sobre a reforma
universitária.
O debate realizado ontem foi o segundo de uma série de quatro.
Os outros acontecem no dia 18, na Escola de Biologia, em Ondina,
às 16h; dia 19, na Escola de Agronomia, em Ondina, às
10h; e, o último, no dia 25, na Reitoria da Ufba, no Canela,
às 9h. A eleição - na qual votam professores,
alunos e corpo técnico-administrativo - acontece nos dias
3 e 4 de maio. (Correio da Bahia, 13/04/2006)